Meditar para (con)viver melhor com o stress
- Renata Guimarães
- 15 de jul. de 2020
- 5 min de leitura
E se ao invés de tentar retirar as fontes de stress de nossas vidas (é mesmo
possível fazer isso?), nós tivéssemos acesso a uma fonte inesgotável e totalmente acessível de paz e serenidade? Pois estamos há uma respiração de encontrar este caminho. Meditar não é o que você está pensando!

Em 2009 a pesquisa sobre os telômeros, estruturas localizadas na extremidade dos
cromossomos e que possuem importante função na divisão celular, deu a Dra Elizabeth
Blackburn o prêmio Nobel da Medicina. As pesquisas dela comprovaram que os telômeros
reduzem de tamanho a cada divisão das células e por fim se desgastam completamente,
fazendo com que elas percam a capacidade de se replicar. Ela também descobriu que o
stress é um dos fatores que provoca o encurtamento dos telômeros, além do desgaste
natural.
Estudos mais recentes da equipe da Dra Elizabeth avaliam os efeitos da meditação de
atenção plena nos impactos que o stress causa na atividade dos telômeros. Há resultados
promissores sobre o efeito da meditação na taxa de encurtamento deles.
Isso significa que a meditação pode estar diretamente relacionada com a postergação do
envelhecimento celular e em última análise, com a própria duração da vida.
Yoga e Meditação
Nada disso parece ser novidade para os sábios indianos que há mais de 2 mil anos
adentraram as florestas tropicais da India para praticar o que hoje chamamos de Hatha Yoga. Patanjali foi o primeiro a sistematizar aquele ensinamento e escreveu, em forma de aforismos, o conhecido Yogasutra de Patanjali.
Os 3 primeiros versos de Patanjali, em tradução livre do sânscrito dizem:
1. Eis os postulados mais elevados do Yoga.
2. O Yoga é o recolhimento das atividades da mente.
3. Então, “aquele que vê” se manifesta em sua natureza autêntica.
Ora, então Patanjali disse que yoga é meditação e que em meditação, o meditador se
manifesta em sua natureza autêntica…
Com esta afirmação, jogamos terra sobre toda a crença ocidental atual de que yoga e
meditação são treinos físicos e mentais que visam condicionar nossos corpos e mentes para determinados estados de plenitude e sabedoria.
Ainda que seja muito desejável treinar corpo e mente para a saúde plena, yoga e meditação
(que segundo Patanjali são a mesma coisa) tratam de um caminho para levar o Ser de volta ao que ele essencialmente já é.
Papo-cabeça, né? De tão simples, parece bobagem, mas a meditação que tem efeitos diretos nos impactos do stress é puramente uma prática do não fazer e do prestar atenção ao que acontece momento a momento.
A Meditação de Atenção Plena
Também muito conhecida como Mindfulness, a meditação de atenção plena tem sido utilizada como prática auxiliar no tratamento de dores (físicas e emocionais), doenças e stress desde a década de 70 no Centro Médico da Universidade de Massachussets, nos Estados Unidos.
Jon Kabat-Zinn é médico e criador da técnica conhecida como MBSR - Mindfulness based
stress reduction (redução do stress baseada em atenção plena), em que os pacientes do
hospital da Universidade de Massachussets passam 8 semanas praticando, sob orientação
da equipe, programas como o escaneamento corporal, a meditação sentada e o yoga da
atenção plena (que para os praticantes mais leais às tradições, não passa do puro Hatha
Yoga).
Para Kabat-Zinn, “Mindfulness tem a ver com não confundir nossos pensamentos com a
verdade das coisas, e não cair na armadilha das tempestades emocionais, que na maior parte das vezes apenas aumentam a dor e o sofrimento, próprio e alheio."

Como praticar?
Qualquer pessoa pode praticar a atenção plena seja formalmente sentando-se para a meditação numa postura ereta mas não rígida, seja enquanto caminha, lava louças, toma banho ou embala o bebê que acordou na madrugada.
A prática requer disciplina e comprometimento, pois há sempre muitas coisas a serem feitas se colocando entre nós e o compromisso com o não-fazer e simplesmente prestar atenção ao que está se passando momento a momento.
Para começar, usar a respiração como âncora é uma boa dica. Comece a prestar atenção na forma como o ar entra e sai de seu corpo, quais os efeitos no abdômen, nas narinas, e onde mais você puder sentir a respiração acontecer. Sempre que notar que começou a pensar em algo, até mesmo na própria respiração, traga a atenção de volta. Lembre-se: a ideia aqui é perseverar no prestar atenção à respiração e não pensar ou formular teorias sobre ela.
No início parecerá maçante passar algum tempo respirando e só prestando atenção. Mas
com o tempo, o exercício de notar os pensamentos chegando e decisão de não seguí-los só
agora, neste período de prática, poderá trazer poderosos insights sobre como na maior parte das vezes nossas emoções, reações e respostas ao que acontece está diretamente
relacionado com pensamentos, e não com o que está de fato acontecendo.
Para observar os pensamentos com essa dose de distanciamento, é fundamental manter uma postura de não julgamento, ou seja, não se criticar por estar pensando durante a prática de atenção plena. É da natureza da mente divagar de um ponto a outro, do passado ao futuro, entre memórias e desejos.
Nosso objetivo aqui não é parar a mente, isso seria impossível.

O que queremos é observar cada instante com a mente de um principiante, como uma criança que olha pra vida com entusiasmo e curiosidade, atento e desperto diante dos pensamentos e sentimentos, aqui e agora. 10 ou 15 minutos de prática formal já é muito bom para que se aprenda a lidar com as impressões e para que se possa reafirmar o compromisso de trazer a atenção de volta cada vez que a mente voar pra longe. Eu gosto de pensar que se treinarmos em momentos por nós escolhidos, será muito mais fácil repetir em situações de crise, ou seja, quando o stress do dia a dia entrar pela porta mesmo sem ser convidado.
Também recomendo abrir mão de quaisquer objetivos que você possa almejar com a
meditação. Até mesmo o de lidar com o stress. Mesmo que os resultados possam aparecer e vão aparecer!
Ao invés de buscar a meditação para ensinar a mente a ver o lado positivo das coisas, encare a como um trem que o conduz de volta para casa (um estado de calma e consciência, nosso estado natural) em segurança num dia frio e chuvoso, mas que também pode te mostrar belas paisagens pela janela quando o clima estiver favorável.
Meditar pode ser o maior ato de amor que você escolhe fazer por você, já que é uma decisão particular e individual de parar a correria e observar o que há por aí, dentro, fora, rondando, ebulindo, erupçando.
E em consequência do auto amor, ela pode trazer efeitos surpreendentes, inesperados e
maravilhosos.
Cabe a nós começar um mundo de paz. E o caminho é para dentro.
Namaste.
Renata Guimarães.
www.reguimaraes.com.br
IG: @repeguima
Face: repeguima
Email: contato@reguimaraes.com.br
Renata Guimarães Escritora e Poeta apaixonada pelas artes em suas diversas expressões.
Facilitadora e Praticante-Amante da Comunicação Não Violenta como estratégia de vida e liderança de grupos com foco na felicidade.
Terapeuta Ayurvédica, Instrutora de Yoga, Thetahealer, Reikiana, Meditadora sempre em busca de autoconhecimento, espiritualidade e bem estar integral.
Engenheira e Administradora especialista em liderança de times multidisciplinares para gestão de recursos e melhoria das relações humanas.
Bibliografia:
Kabat-Zinn, Jon. Viver a Catástrofe Total: como utilizar a sabedoria do corpo e da mente para enfrentar o estresse, a dor e a doença; tradução Maricia Epstein - São Paulo: Palas Athena, 2017
Patanjali. Os Yoga Sutras de Patanjali - São Paulo: Mantra, 2015
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